A interface entre ciência, tecnologia e inovação na produção de petróleo e gás

06/04/2016 - NGP - Assessoria à Elaboração de Projetos

paisagem do por-do-sol e ao fundo uma silheta de bomba de óleo

"A formação de depósitos incrustantes é um problema recorrente na indústria de produção de petróleo e gás".

A afirmação é do professor do Laboratório de Incrustações Inorgânicas (LCII) do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, Celso A. Bertran. Há mais de oito anos, ele desenvolve trabalhos de pesquisa em parceria com a Petrobrás - em convênios administrados pela Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) - a partir da investigação e análise de águas supersaturadas, desenvolvimento de métodos de avaliação de eficiência de inibidores, estudo e produção de superfícies com capacidade para minimizar os processos de incrustação.

"Toda vez que você tem uma solução aquosa, concentrada em sais, passando por um espaço delimitado, ela vai incrustar, ou seja, vai formar uma crosta desse material na parede em que ela está em contato. É o que acontece com os canos metálicos de casas antigas, ou mesmo com as nossas veias do coração".

A explicação simplificada do professor Bertran para o conceito de incrustação desvela, na verdade, o complexo desafio enfrentado pela indústria petrolífera, na atualidade, quanto à extração de petróleo - que em escala macro, precisa frear, ou mesmo impedir, o processo de incrustação acontecendo ininterruptamente no interior dos tubos, válvulas e equipamentos de extração.

"Junto com o petróleo que é extraído para a superfície vem também o que chamamos de água de formação, uma solução altamente concentrada em sais, que incrusta tudo que entra em contato com ela. Se nada é feito, os tubos podem entupir, e isso é um problema sério porque envolve muito dinheiro. Pense na dificuldade de trocar um tubo de um reservatório de petróleo localizado sete quilômetros abaixo do fundo do mar. Você gasta dinheiro e não produz petróleo suficiente para pagar a conta", explica.

O pesquisador do Instituto de Química da Unicamp conta que a injeção de substâncias químicas no interior dos poços de petróleo ainda é o procedimento mais utilizado no mercado para evitar a ocorrência da incrustação. Além de ser a alternativa mais segura é a que reúne mais conhecimento sobre o seu funcionamento. Todavia, tecnologias que apostam no emprego de novos revestimentos para tubos e equipamentos de extração têm ganhado cada vez mais espaço.

"A própria Petrobras percebeu que alguns tubos e equipamentos metálicos, revestidos com material polimérico para evitar a corrosão, também apresentavam como efeito colateral, a capacidade de incrustação reduzida. Por algum motivo, a interface entre polímero, petróleo e água de formação contribuía para esse fenômeno. Há quatro anos, aproximadamente, começamos a investigar a possibilidade de inibição da incrustação a partir da utilização de novos revestimentos", explica Bertran.

Atuando ao lado do professor Bertran no LCII, a química Maria de Fátima B. Sousa Sundin explica que as tecnologias de inibição de incrustação baseadas em superfícies - entre elas, algumas também conhecidas pela sigla SLIPS (Slippery Liquid-Infused Porous Surfaces) - despontam como alternativa mais viável à indústria petrolífera. "Operacionalmente, seria mais vantajoso trabalhar com uma superfície que tivesse a capacidade de inibir a incrustação, do que ter que injetar o inibidor, tendo em vista a profundidade dos poços, o volume necessário de substâncias químicas, e o
impacto ambiental".

Ainda vai levar um tempo para que o mercado invista em poços totalmente baseados nas tecnologias de superfície, de acordo com Bertran, porém, as pesquisas avançam nessa direção.

"O que está acontecendo hoje é um associação de ambas as tecnologias. Temos trabalhado bastante na avaliação de revestimentos e, principalmente, no entendimento do fenômeno, para criar um modelo que explique porque algumas superfícies incrustam menos do que outras, ou seja, qual propriedade está presente na interface entre petróleo, água de formação e revestimento, e que inibe esse processo",
finaliza.

Relatório de Atividades 2016


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